Rio -  Uma falha mecânica nos freios está sendo apontada por peritos da Polícia Civil como a provável causa do acidente, nesta segunda-feira à tarde, com um ônibus da Viação 1001, na Rio-Teresópolis (BR-116), que matou pelo menos 11 pessoas e deixou 19 feridas.

Segundo testemunhas, o motorista, identificado apenas como Eduardo Fernandes, perdeu o controle do veículo, na altura do Km 102, em Guapimirim, invadiu a pista no sentido contrário e atingiu o carro de um casal que seguia para Teresópolis.

Após a colisão, o ônibus voltou para a pista e, em seguida, despencou de uma altura de 10 metros e só parou ao se chocar com uma árvore. Ele e mais dez passageiros morreram na hora.
Foto: Arte: O Dia
Arte: O Dia
veículo saiu de Itaperuna, às 9h, com 29 pessoas, e deveria chegar ao Rio às 16h. A empresa disse que no momento do acidente o número de passageiros poderia ser bem maior.
Durante a viagem, o motorista parou para pegar mais passageiros, em quatro cidades: Miracema, Santo Antônio de Pádua, Pirapetinga e Além Paraíba.

Além da suspeita de falha nos freios, a Polícia Rodoviária Federal trabalha com a hipótese de o motorista ter passado mal durante a viagem. No local do acidente não havia marcas de frenagem.

Perícia calcula velocidade  de 80 km/h

Agentes da 67ª DP (Guapimirim) e policiais rodoviários fizeram perícia no local e constataram que o ônibus desceu a Serra de Teresópolis a 80 quilômetros por hora. A velocidade máxima da via nesse trecho é de 60 quilômetros por hora.

Segundo bombeiros do quartel de Teresópolis, passageiros contaram que o motorista vinha tentando controlar o freio do ônibus na descida da Serra.

Viação abre sindicância

A Viação 1001 abriu uma sindicância para apurar as causas da tragédia. Segundo a empresa, todos os veículos passam por manutenção periódica. A companhia afirmou que vai verificar se o freio do ônibus, envolvido no acidente, havia passado por alguma inspeção recente.

O ônibus será levado para o pátio da empresa e lacrado até a polícia fazer uma perícia mais detalhada no local. A via chegou a ser interditada nos dois sentidos por 35 minutos para facilitar o socorro às vítimas.
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Bombeiros de quatro quartéis participaram do difícil resgate de sobreviventes e corpos na mata | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Pavor e desespero em passagerios

Pavor e desespero tomaram conta dos passageiros do ônibus da Viação 1001 minutos antes da queda na ribanceira. Vítimas que sobreviveram ao acidente contaram que, na descida da Serra de Teresópolis, o motorista Eduardo Fernandes puxou o freio de mão várias vezes para tentar parar o veículo.
Passageiros sentiram cheiro de borracha queimada e gritavam sem parar: “Vai bater, vai bater”, quando viram que o ônibus estava descendo a via desgovernado e em alta velocidade.
Em pânico, alguns saíram de suas cadeiras e correram para o fundo do ônibus para evitar o impacto da batida. Um deles foi Emerson Turques da Silva, 14 anos, que está internado no Hospital das Clínicas Constantino Ottaviano de Teresópolis.

O jovem havia ido com a família passar o fim de semana em Itaperuna e voltava para casa, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O irmão, o técnico administrativo Edson Turques da Silva, 22 anos, foi chamado pelo hospital para acompanhar Emerson.
Acidente na Rio-Teresópolis deixa 11 mortos e seis feridos | Foto: Reprodução TV
Ônibus despencou de ribanceira após bater e carro e só parou ao colidir com árvore | Foto: Reprodução TV
“A família está desesperada porque não temos notícias dos nossos pais e da nossa avó que estavam no ônibus”, disse Edson.

Para Teresópolis foram levados de ambulância outros 15 passageiros. Três em estado grave, com fraturas múltiplas nas pernas, braços e quadris. São eles: Ernestina Santos, 81 anos, José Severino da Silva, 54, e um turista alemão não identificado.

Outro alemão teve ferimentos no rosto e foi socorrido no Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon. Junto com ele, bombeiros levaram a aposentada Vera Lúcia de Paula Lopes, 61 anos, que também está fora de perigo.

A neta dela, Maria Eduarda, de 4 anos, foi levada sozinha para o Hospital das Clínicas de Teresópolis. Esperta, ela passou contatos dos familiares que moram em Itaperuna.
Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Sônia e Sebastião Dandara tiveram o carro atingido pelo ônibus, pouco antes de despencar na ribanceira | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
“Ela sofreu só escoriações e está bem”, contou a diretora do hospital, Rosane Rodrigues Costa. Os resgates foram realizados por bombeiros de Magé, Petrópolis, Teresópolis e Guapimirim.

Acidente: Viação 1001 poderá ser responsabilizada

Se ficar comprovado, através de perícia, que a falta de freios foi a causa do acidente, a Viação 1001 poderá ser responsabilizada criminalmente pelas mortes dos passageiros. A informação é da 67ª DP (Guapimirim), que apura as causas da tragédia.
Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Bombeiros recolhem corpos de mortos em ônibus | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
A maioria dos corpos estava dentro do veículo. Duas vítimas foram projetadas para fora do ônibus. Segundo bombeiros o motorista e o passageiro que estava na cadeira atrás foram imprensados contra as ferragens. Os corpos dos mortos foram transportados para o Instituto Médico Legal (IML) do Rio.

Motorista do ônibus teria tentado desviar de carro antes de despencar

O casal Sebastião Dandara, 65 anos, e Sônia Maria Rodrigues, 62, moradores de Teresópolis, subiam a Serra quando se depararam com o ônibus na contramão.

“Vi o ônibus na curva. Ele veio piscando as luzes, como se fosse avisar alguma coisa. Ainda tentei jogar para a direita, mas vinha um caminhão. Pensei: vou morrer. Nessa hora, só rezei. Se o ônibus não desviasse, ia bater na gente e íamos acabar morrendo”, contou Sebastião.

O Renault Sendero de Sebastião foi atingido na lateral traseira pelo ônibus. Em seguida, o veículo totalmente sem controle subiu o meio fio e despencou para a ribanceira.

“Fomos salvos por Jesus”, afirmou a técnica de enfermagem Sonia Maria. Sebastião conta que ficou tão atordoado que parou o carro, deu meia volta e desceu a Serra procurando o ônibus, mas não viu o acidente.

Um policial disse que o motorista salvou muita gente. “Se tivesse batido no carro, teria batido em muitos outros carros, provocando tragédia ainda maior”.

Colaborou Maria Luisa Barros